Os termos “ética” e “moral” são constantemente utilizados tanto no
dia-a-dia quanto nas provas do Enem, em vários cadernos. Inclusive, já
foi assunto da redação no ano de 2009, com o tema: “O indivíduo frente a ética nacional”.
Afinal, essas palavras são sinônimas? Não! Então vamos ver a diferença entre seus conceitos.
Segundo
o filósofo Paul Ricoeur, a ética vem antes da moral e está ligada à
liberdade individual. A moral, construída posteriormente, é advinda das
leis e normas sociais.
A palavra ética vem do grupo ethos, que
possui duas formas de grafias diferentes. Êthos (com eta) significa a
casa do homem, a morada, abrigo estável. Éthos (com épsilon) refere-se
ao comportamento resultante da repetição constante de um mesmo ato, que
se torna um hábito. O ethos, então, designa o lugar (morada do
indivíduo) onde hábitos são formados. A palavra latina mores (a qual
originou moral) foi uma tradução do grego ethos, o que explica a difícil
distinção entre esses conceitos.
Podemos entender que a ética é o costume de um indivíduo frente às suas escolhas individuais realizadas no exercício de sua liberdade. Já moral é o costume que venceu dentro de um contexto social, tornando-se habitual, um consenso que transforma-se em norma. Algumas normas se expressam em forma de leis, adentrando o campo jurídico.
No
senso comum, essas palavras se confundem e são utilizadas sem a
denotação filosófica adequada. E isso é preocupante porque uma mesma
ação pode ser analisada legalmente, socialmente e individualmente.
Quando essas áreas são misturadas, a crítica sobre a ação gera diversos
problemas.
Um exemplo disso foi o ocorrido no caso dos ataques ao jornal francês Charlie Hebdo no início deste ano. Em um primeiro momento, o mundo parou em apoio ao jornal, em um processo de identificação (Je Suis Charlie
= Somos todos Charlie) como solidariedade pelas mortes ocorridas, em
nome da liberdade de expressão. Isso ocorreu por uma análise moral, já
que é um hábito da sociedade dos países ocidentais a valorização da
liberdade de expressão. É muito famosa, inclusive, a frase atribuída a
Voltaire: “Posso não concordar com uma palavra que dizes, mas defenderei
até a morte o direito de dizê-las”.
Passado o impacto imediato do
ocorrido, outras perspectivas ganharam voz na análise do caso, ligadas
muito mais à ética, ao pensar o indivíduo. Realmente tudo pode ser dito,
mesmo que ofenda o outro? A liberdade de expressão é um valor a priori
da construção social? Onde ficam os outros ideais inerentes à democracia
como não violência, tolerância, liberdade, igualdade, fraternidade
(aceitação da diferença)?
A violência não é justificável, mas pode
ser entendida. Afinal, ilustrar (com a bunda para cima!) o profeta de
uma religião que tem como preceito não representar com imagens seus
líderes religiosos é, no mínimo, intolerante!
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